
De acordo com o levantamento, o Nordeste fica atrás apenas do Norte, que tem 19,4% dos casos (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Pelo menos 13.934 bebês nascidos no País, em 2023, foram de
mães que tinham até 14 anos de idade na época. Desse total, 14,4% foram
registrados no Nordeste, segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher
(Raseam 2025), divulgado nesta terça-feira (25) pelo Ministério das Mulheres. A
pesquisa é desenvolvida pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero,
vinculado ao órgão federal.
De acordo com o levantamento, o Nordeste fica atrás apenas
do Norte (19,4%) no ranking que aponta a maior quantidade de adolescentes que
deram à luz nesse período. A pesquisa destaca que, além de a gestação na
adolescência ser considerada de risco (assim como a gravidez acima dos 35 anos
de idade), ela está frequentemente associada à exclusão social e ao aumento da
vulnerabilidade econômica.
Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou mais de 232 mil
nascimentos de bebês cujas mães tinham chegado aos 14 anos, o que representa
11,9% dos nascimentos no país. A legislação brasileira estabelece que a relação
sexual com meninas até essa idade configura crime de estupro de vulnerável. “A
gravidez na infância e na adolescência não é apenas uma questão de saúde
pública ou de falta de acesso à educação sexual. É também resultado de uma
interseção brutal entre a cultura do estupro, da pedofilia e da misoginia que
permeia diversas esferas da sociedade”, diz o relatório.
Ao longo de dez anos, o número de meninas nessa faixa
etária que deram à luz caiu 50,2%, mas o estudo destaca que “o percentual
permanece consternador, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, que
continuam a concentrar os índices mais altos”. A ministra das Mulheres, Cida
Gonçalves, afirmou que os dados sobre violência sexual contra meninas são
alarmantes e pontuou a necessidade da educação sexual para prevenir esses
casos.
“É muito assustador o cenário de violência sexual contra
meninas no Brasil, e temos visto o crescimento desse crime, principalmente
entre crianças de 0 a 9 anos. São violações que acontecem, muitas vezes, por
parte dos próprios familiares — pai, irmão, tio, avô — e dentro de casa”, disse
a ministra.
No lançamento do relatório, realizado em Brasília, a
deputada federal e coordenadora-geral dos Direitos da Mulher da Secretaria da
Mulher na Câmara dos Deputados, Benedita da Silva destacou que “a base do
governo deve receber este relatório para compreender e compatibilizar o nosso
orçamento com as demandas aqui colocadas. Não dá para a gente ver o feminicídio
aumentando a cada dia. Todo dia temos uma notícia bárbara”.
Apesar de o relatório não trazer dados específicos sobre
Pernambuco, segundo o balanço da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), em
2023, o estado registrou 16.232 bebês nascidos de meninas entre 10 e 19 anos em
2023, o equivalente a 14% do total de nascimentos. Segundo Cleonúsia
Vasconcelos, gerente da Atenção à Saúde da Mulher de Pernambuco, as
adolescentes costumam deixar de frequentar os postos de saúde nessa faixa
etária, o que dificulta o acompanhamento desse público.
“Aqui na Secretaria Estadual de Saúde, temos feito parceria
com a Secretaria Estadual de Educação na formação de cursos sobre saúde, onde
unimos profissionais da saúde e da educação para fortalecer a informação sobre
métodos contraceptivos e infecções sexualmente transmitidas”