
(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Milhares de motoboys que atuam em aplicativos de entrega
realizaram uma greve nacional nos dias 31 de março e 1º de abril. Os atos, que
ficaram conhecidos como “breque dos apps” ocorreram em diversas cidades do país
e tiveram como principal pauta o aumento da taxa mínima por entrega e do valor
pago por quilômetro rodado. Os trabalhadores denunciam que, enquanto os custos
com combustível, manutenção da moto e alimentação aumentaram, os repasses das
plataformas seguem os mesmos.
Essa foi a maior mobilização nacional dos entregadores
desde o #BrequeDosApps em 2020, quando os trabalhadores fizeram uma greve
contra as condições de trabalho impostas pelos aplicativos. Assim como naquela
ocasião, os motoboys denunciam a falta de reajuste nos valores pagos pelas
entregas e a ausência de direitos trabalhistas básicos.
A ação, organizada por diferentes coletivos de entregadores
de ao menos 18 capitais, reivindica um reajuste da taxa mínima por entrega para
R$ 10 – atualmente o valor pago é de R$ 6,50. Além disso, cobram que o
quilômetro rodado suba dos atuais R$ 1,50 para R$ 2. Há também uma demanda
específica para os entregadores de bicicleta: que as entregas realizadas por
eles sejam limitadas a um raio máximo de três quilômetros.
A paralisação nacional foi marcada por atos em diferentes
estados, com concentrações em locais estratégicos, como sedes de aplicativos e
grandes avenidas. A movimentação estava prevista para terminar nesta
terça-feira (1º), mas em alguns lugares ela se estendeu até esta quarta (2). Em
todos os casos, os entregadores de aplicativos como iFood, Rappi, Lalamove e 99
denunciam as condições precárias de trabalho e prometem que, caso as
reivindicações não sejam cumpridas, haverá novos atos.
No Instagram, a conta @brequenacionaldosapps publicou
imagens dos atos, com reivindicações de lideranças da categoria em cidades de
todas as regiões brasileiras. O fim da greve foi anunciado à meia-noite desta
quarta. No perfil, os trabalhadores compartilharam em tempo real as
repercussões dos atos e parabenizam nos comentários aqueles que respeitaram o
movimento, além de registrarem desabafos e denúncias relacionados à pauta.
Breque dos apps: veja um resumo do que
aconteceu nas principais localidades
São Paulo
Cerca de dois mil entregadores fizeram uma motociata na
avenida Paulista, na capital paulista, e seguiram até a sede do iFood, em
Osasco, na Região Metropolitana. Após horas de espera sob chuva, tiveram suas
reivindicações negadas e decidiram organizar bloqueios nos principais shoppings
da capital, impedindo a saída de pedidos via delivery. O impacto foi
significativo: segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel
SP), estabelecimentos que operam exclusivamente com o iFood tiveram queda de
100% nas entregas, enquanto aqueles que usam múltiplas plataformas registraram
redução de 70% a 80% no volume de pedidos.
Durante a mobilização, os trabalhadores denunciaram a
precarização e a alta letalidade da profissão. Apenas na capital paulista, as
mortes de motociclistas cresceram cerca de 20% no último ano, passando de 403
em 2023 para 483 em 2024, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Muitos relataram jornadas exaustivas e a necessidade de correr para aumentar os
ganhos. Em protesto diante do Masp, uma intervenção com tinta vermelha, uma
mochila de entregas e um papel alumínio simulando um corpo no chão chamou
atenção para os riscos enfrentados diariamente pela categoria.
A manifestação foi amplamente registrada pelos próprios
entregadores e contou com apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST),
que distribuiu marmitas aos participantes. Sem protagonismo de sindicatos ou
partidos, os trabalhadores impediram que parlamentares discursassem. A
insatisfação com as condições de trabalho e a negativa do iFood às
reivindicações reforçaram a disposição dos grevistas. “Eles não deram porra
nenhuma, mas viram que o movimento foi forte no país inteiro. Vamos continuar,
porque a gente vai mandar o recado”, afirmou uma das lideranças do ato.
Belo Horizonte
Na capital mineira, os entregadores bloquearam vias e
impediram a retirada de pedidos em alguns pontos estratégicos da cidade. Apesar
da adesão menor em comparação a São Paulo, a mobilização foi expressiva. Os
manifestantes criticaram a falta de reajuste significativo nas tarifas e
denunciaram condições precárias de trabalho. Tárcio Batista, conhecido como
Tarciano Motoboy, afirmou que a empresa reduz a quilometragem das rotas de bike
em vez de aumentar os repasses e que a maioria dos entregadores segue recebendo
apenas R$ 6,50 por entrega, mesmo em trajetos longos e demorados. Ele também
questionou a efetividade do seguro oferecido pelo iFood, afirmando que muitos
trabalhadores não conseguem acessá-lo. Especialistas apontam que, apesar da
força da mobilização, a falta de uma organização formal ainda é um desafio para
a categoria no estado.
Brasília
Entregadores de aplicativo realizaram um protesto na
Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Os trabalhadores denunciam a falta de
reajustes, a precarização do trabalho e a ausência de apoio das plataformas
diante dos riscos da profissão. Os manifestantes destacam que os aplicativos
lucram com taxas pagas pelos clientes sem repassar valores justos aos
entregadores. Além disso, apontam que, em 2023, 100 motociclistas morreram no
trânsito do DF, número superior ao do ano anterior. O deputado distrital Fábio
Felix (PSOL-DF) participou do ato e criticou a postura das empresas, que,
segundo ele, “chantageiam o poder público” para evitar regulamentação. Ele
propôs a criação de pontos de apoio para os trabalhadores, mas a implementação
ainda enfrenta desafios.
Rio de Janeiro
Entregadores de aplicativo protestaram em diferentes pontos
da cidade e da Baixada Fluminense. Na capital, houve manifestações na Tijuca,
onde a polícia interveio, e em Botafogo, onde os trabalhadores realizaram um
buzinaço. As principais reclamações incluem o valor defasado das corridas,
falta de suporte em casos de acidentes e banimentos sem justificativa. Durante
os atos, 13 pessoas foram levadas à delegacia na Tijuca, e seis foram autuadas
por associação criminosa e atentado contra a liberdade de trabalho, sob a
acusação de ameaçarem colegas para aderirem à paralisação. No ano passado, a
precarização do trabalho dos entregadores foi tema de uma audiência pública na
Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), que discutiu uma legislação
para proteger a categoria.
Porto Alegre
Na capital gaúcha, uma motociata de entregadores de
aplicativo causou lentidão e bloqueios temporários no trânsito em vias
importantes como a BR-116, Freeway, avenida Mauá e avenida Loureiro da Silva.
Os manifestantes partiram de Canoas e seguiram até a sede de uma das empresas
do setor, conforme informações do portal Zero Hora. Além disso, segundo o
portal Sul21, houve uma manifestação ao lado do Shopping Praia de Belas, onde
os trabalhadores ocuparam faixas da avenida para pressionar por reajuste na taxa
mínima por entrega e no valor pago por quilômetro rodado. A mobilização também
incluiu uma demanda específica para entregadores de bicicleta, pedindo a
limitação das entregas a um raio máximo de 3 km.
Recife
Os protestos de entregadores de aplicativo bloquearam vias
importantes do Recife e Região Metropolitana, como a avenida Bernardo Vieira de
Melo, a Agamenon Magalhães e a ponte do Pina. Além de causar congestionamentos,
a mobilização impediu a retirada de pedidos em shoppings e pontos de
distribuição de alimentos. O presidente do sindicato da categoria, Rodrigo
Lopes, criticou a falta de avanços nas reivindicações dos trabalhadores, que
enfrentam condições precárias desde a pandemia. A paralisação também gerou
apoio de parte da população, como a enfermeira Silvana Pedrosa, que apontou a
crescente precarização do trabalho no Brasil. As informações são da Tribuna
Online.