
Entre as mudanças percebidas, 96% dos entrevistados citaram aumento de temperatura (Foto: Arquivo/Agência Brasil)
De cada dez nordestinos, seis acreditam que os eventos
climáticos severos que afetaram a Região Nordeste, em 2024, bem como suas
consequências, foram comparativamente piores que o habitual. A constatação é da
pesquisa A Visão do Nordeste Sobre Mudanças Climáticas, do instituto Nexus de
Pesquisa e Inteligência, divulgada nesta terça-feira (15).
Para 57% dos entrevistados, os eventos climáticos
registrados ao longo do ano passado foram “piores que o normal” e, entre esses,
11% classificaram como “muito piores que o normal”.
Outros 25% consideraram os eventos climáticos idênticos ao
que vivenciaram em anos anteriores, e 12% disseram ter sentido uma melhora e 3%
que a situação foi muito melhor. Cerca de 3% dos entrevistados não souberam ou
não responderam às perguntas.
Entre as mudanças percebidas, 96% dos entrevistados citaram
aumento de temperatura; 90%, a ocorrência de menos chuva e 83%, secas mais
graves – sendo que, entre os habitantes de cidades do interior com renda
familiar de até um salário mínimo, a percepção da estiagem sobe para 86%.
Quase metade (49%) dos entrevistados não consideram que a
deterioração das condições climáticas seja uma crise, embora admitam se tratar
de um “grave problema”. Outros 27% consideram, sim, tratar-se de uma crise.
Para 10% das pessoas consultadas, a questão climática é um “problema menor”,
enquanto 9% não vêem nenhum problema e 5% não souberam ou não responderam às
perguntas.
Entre os moradores dos nove estados do Nordeste - Alagoas,
Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe - entrevistados, a avaliação de que o mundo vivencia uma crise
climática é mais recorrente entre mulheres (31%); jovens de 16 anos a 24 anos
de idade (35%); pessoas com ensino superior (39%) e quem tem renda superior a
cinco salários mínimos (38%).
Futuro
Para 45% dos nordestinos entrevistados, a intensidade dos
eventos climáticos extremos como secas, inundações, tempestades e calor ou frio
intensos será muito mais forte nos próximos 5 anos, enquanto 8% acreditam que
ela será “extremamente mais forte”.
Juntos, esses dois grupos totalizam 53% dos que responderam
às perguntas, um percentual maior do que os que classificam a situação do clima
como um “grave problema”, e englobam, principalmente, quem tem ensino superior
(16%) e renda familiar acima de cinco salários mínimos (22%).
Na contramão da maioria, 20% dos entrevistados entendem
que, até 2030, os eventos climáticos extremos serão moderados; 10%, que eles
serão menos fortes e 4%, muito menos fortes, e 12% não souberam ou não
responderam.
“A pesquisa mostra que os nordestinos estão preocupados com
as mudanças climáticas e têm sentido os eventos extremos, como as altas
temperaturas e as secas, com destaque para a população mais pobre e do
interior. Os dados também revelam uma percepção mais crítica entre os
brasileiros com maior escolaridade”, explica o executivo-chefe do Nexus,
Marcelo Tokarski.
Percepção
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet) Morgana Almeida avalia que os resultados da pesquisa sugerem que, a
cada dia, mais e mais pessoas têm se dado conta do alcance das mudanças
climáticas e se inteirado de suas consequências.
“A pesquisa retrata que a população está mais atenta às
questões do clima. E isso é muito importante, pois a condição de clima e tempo
é fundamental para a vida de todos”, disse Morgana à Agência Brasil.
Segundo a meteorologista, que vive no Recife, apesar das
peculiaridades locais, é possível afirmar que, em linhas gerais, a percepção
dos entrevistados coincide com o balanço de especialistas sobre as condições
regionais.
“O Nordeste é muito grande, muito diverso. Em 2022, por
exemplo, a região metropolitana do Recife enfrentou uma das piores catástrofes
em termos de chuvas extremas, que vitimou mais de 140 pessoas. Então, neste
aspecto, para o morador do Recife, 2024 não foi pior. Mas quando se trata de
temperaturas, o ano passado foi um dos mais quentes já registrados [inclusive
na região]”, comentou Morgana, lembrando que, em 2024, a média brasileira das
temperaturas atingiu 25,02ºC, ou seja, 0,79% acima da média histórica de
24,23ºC, o que tornou o ano passado o mais quente registrado no país desde
1961.
“As mudanças climáticas têm se evidenciado em todas as
partes do globo e, a cada ano que passa, as temperaturas estão mais altas.
Consequentemente, os eventos extremos, seja de mais chuvas ou de estiagem, têm
se tornado mais frequentes, conforme os especialistas há mais de dez anos
previram que aconteceria”, destacou Morgana.
Norte
Para tentar entender a avaliação dos nordestinos sobre as
mudanças climáticas e seus efeitos, os pesquisadores do Nexus entrevistaram a
1.216 pessoas, entre 12 e 17 de dezembro de 2024. A margem de erro da amostra
em cada região é de 3,5 p.p, com intervalo de confiança de 95%.
Em março, o instituto divulgou os resultados da mesma
pesquisa aplicada a 1.195 moradores dos sete estados da Região Norte - Acre,
Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A exemplo dos nordestinos, 72% dos entrevistados nortistas
consideram que, em 2024, os eventos climáticos extremos foram piores que em
anos passados. Para nove em cada dez (91%) entrevistados, o ano passado foi
mais quente que de costume; 76% por cento dos entrevistados consideram que
choveu menos (o que não significa que chuvas concentradas não tenham causado
estragos e transtornos) e 78% que os episódios de secas foram mais graves. Para
65% dos entrevistados, os eventos climáticos adversos se tornarão mais intensos
nos próximos 5 anos.