Com apenas 16.677 habitantes e localizada a 107 quilômetros
do Recife, o município de São Vicente Férrer, no Agreste de Pernambuco,
instalou painéis de energia solar em todos os prédios públicos, incluindo
hospitais e escolas, e inaugurou uma frota de carros elétricos. A iniciativa
deve gerar uma economia de até R$ 1,5 milhão por ano para o município, segundo
a prefeitura.
Lançada oficialmente na sexta-feira (21), a instalação das
placas solares na verdade começou desde 2023, depois que a cidade conseguiu uma
linha de crédito de R$ 4 milhões junto ao Banco do Brasil, e foi concluída no
fim do ano passado.
"A princípio, a ideia era montar uma usina
fotovoltaica, mas foi feito um novo estudo e vimos que seria muito mais efetivo
montar essas 'subusinas' nos prédios públicos. E a gente conseguiu instalar em
todos os prédios públicos da cidade", contou ao g1 o secretário municipal
de Planejamento e Gestão, Adilson Carlos Ferraz.
Ao todo, 1.850 painéis, que convertem a luz do sol em
eletricidade, foram colocados nos telhados de 15 imóveis.
Entre eles, estão quatro escolas, uma creche e sete
unidades hospitalares, além das sedes administrativas. De acordo com a gestão
municipal, os recursos economizados com redução da conta de energia serão
investidos nos serviços de saúde.
"[A instalação] envolve vários fatores. Foi preciso
fazer um ajuste nas estruturas [dos prédios] para suportar as placas, tem a
parte da Neoenergia, a ligação com a rede pública [de distribuição elétrica].
Realmente, é demorado porque exige muita mão de obra técnica", explicou
Adilson Carlos Ferraz.
Além das placas solares, São Vicente Férrer adquiriu quatro
carros elétricos, que serão usados nas áreas de educação, saúde e assistência
social. O projeto prevê a renovação completa da frota municipal, que conta com
12 veículos, durante o ano de 2025.
O investimento total foi de R$ 700 mil, com recursos
próprios e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb).
"Um [carro] será usado para tratamento fora do
domicílio, para quem normalmente precisa se deslocar para a capital. Outros
veículos vão ser usados para transportar alunos aonde os ônibus escolares não
conseguem chegar devido ao difícil acesso. E outro veículo vai ser destinado
para a assistência social, para atender a população em situação de
vulnerabilidade social", detalhou o secretário de planejamento.
Energia limpa
Localizado no Agreste Setentrional, na divisa com a
Paraíba, São Vicente Férrer fica numa extensa área que registra os maiores
índices de radiação solar durante o ano e tem, portanto, mais potencial de
geração de energia fotovoltaica.
Essa área vai do interior do Rio Grande do Norte ao Oeste
de Minas Gerais, segundo dados do Atlas Brasileiro de Energia Solar do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o pesquisador Rodrigo Costa, do Laboratório
de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis do Inpe, investir em fontes
alternativas de energia é uma estratégia para diversificar a matriz energética
do Brasil, que ainda é muito dependente das hidrelétricas (veja vídeo acima).
"A nossa matriz tem esse foco na matriz hidroelétrica,
o que é uma coisa muito boa, mas traz insegurança. A gente sofre com anos mais
secos e uma maneira de garantir a geração de energia é buscando outras formas.
Às vezes, você precisa ligar termoelétricas em períodos de seca, mas ela é uma
fonte de gás e carvão e emite gases do efeito estufa", disse.
Segundo o especialista, o país registrou um crescimento
exponencial na geração de energia solar nos últimos 15 anos e hoje tem uma
capacidade de produção que gira em torno de 54 gigawatts, quase quatro vezes
mais do que a da Usina de Itaipu, uma das maiores hidrelétricas do mundo.
Essa grande capacidade de geração, sem emissão de carbono,
possibilita uma grande redução na conta de luz, ao mesmo tempo em que ajuda na
distribuição de energia para o sistema elétrico, podendo beneficiar, inclusive,
outras cidades.
"Mesmo sendo um município pequeno, você consegue fazer
a inserção da energia excedente de volta à rede. Você não vende de volta a
energia para a distribuidora, você ganha créditos dela [...]. A gente tem a
facilidade de viver num país com um sistema interligado. A energia que você
está usando não necessariamente vem da hidrelétrica mais próxima, ela pode
estar sendo gerada em outra região", explicou o pesquisador Rodrigo Costa.
Apesar das vantagens da energia solar, o alto custo de
instalação das placas, que pode chegar a mais de R$ 200 mil para prédios
comerciais, ainda é visto como um entrave para o avanço desse tipo de geração
em muitas cidades do país, que dependem de financiamentos externos.
"Ainda é um
investimento alto, mas tem algum retorno com alguns anos de uso. Às vezes sete,
oito anos, dependendo do tamanho do sistema. Tem a questão do custo e de
desmistificar. Há quem não acredite [na possibilidade de retorno financeiro].
Há uma questão de ajuste de custo e tornar essa geração mais confiável para as
pessoas", afirmou Rodrigo Costa.