
Reitores de universidades federais em Pernambuco denunciam dificuldade de pagar contratos e bolsas após cortes de recursos (Foto: Reprodução/TV Globo)
As universidades federais em Pernambuco calculam um déficit
de pelo menos R$ 32 milhões apenas com ações de manutenção até o mês de
dezembro de 2024. O valor foi apresentado durante entrevista coletiva na manhã
desta terça (15), na reitoria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que
reuniu os reitores Alfredo Gomes (UFPE), Maria José de Sena (UFRPE); Télio
Nobre Leite (Univasf); e Airon Melo (Ufape).
Os gestores denunciaram a situação orçamentária das
instituições de ensino no estado. Somente na UFPE, segundo o reitor Alfredo
Gomes, a verba aprovada para o ano de 2025 é 56,88% menor do que o que foi
enviada em 2014. Nacionalmente, esse percentual representa menos R$ 1,5 bilhão,
enquanto que para a UFPE são R$ 42,7 milhões – sem considerar a correção da
inflação do período.
Se fosse corrigido pela inflação, os repasses
representariam um déficit de R$ 8,3 bilhões para as universidades federais do
país em 10 anos e R$ 224,8 milhões para a UFPE.
“No mesmo dia que o orçamento foi aprovado saiu uma medida
dizendo que o valor seria dividido em 18 meses. Se os recursos tivessem sido
divididos em 12 vezes, teríamos cerca de R$ 65 milhões para manter o
funcionamento entre janeiro e março. No entanto, o que recebemos foi R$ 49
milhões. Esse valor não cabe no orçamento mensal da UFPE”, advertiu Alfredo
Gomes.
Segundo Gomes, o pagamento das contas dos meses de abril e
maio da UFPE já estão ameaçadas, pois as despesas alcançam R$ 13 milhões
mensais e só estão disponíveis R$ 10 milhões por mês para pagar mais de 60
contratos e garantir a assistência estudantil.
Segundo os reitores, as contas mais ameaçadas das
universidades são os chamados contratos essenciais. Despesas com segurança,
manutenção, limpeza, fornecimento de energia, transporte e gestão de portarias
estão com os contratos atrasados e já passaram por cortes em todas as
instituições.
A reitora Maria José Neves, da UFRPE, disse que a
instabilidade orçamentária é grave e que a universidade iniciou o ano com um
passivo de R$ 7 milhões que não foram pagos em 2024. Para a reitora, a
instituição está atuando em colapso, inclusive com aviso de corte da
Neoenergia, sem pagar serviços como segurança e manutenção, e com risco de
parar totalmente até o mês de agosto.
“Temos um orçamento que está aprovado, sancionado, mas esse
orçamento não nos permite trabalhar na universidade até dezembro. Nos primeiros
cinco meses deste ano a gente já usou 41% dos recursos disponíveis para este
ano. O que estamos preocupados é com o abandono orçamentário das universidades.
O orçamento só cobre oito meses de despesas da UFRPE. E isso não vai mudar se o
governo não mudar as suas prioridades”, pontuou Maria José Neves.
Assistência universitária ameaçada
Segundo os gestores universitários, a preocupação também
passa pela continuidade dos estudantes na vida acadêmica, pois as verbas para
bolsas de estudo e manutenção também foram cortadas.
Dos recursos repassados para a manutenção das universidades
em Pernambuco, entre 30% e 40% são destinados para assistência estudantil, que
inclui bolsas de estudo e permanência e restaurantes universitários.
“Na Univasf 60% dos estudantes estão em situação de
vulnerabilidade. O corte de recursos coloca em risco a continuidade desses
alunos nos cursos. A nossa realidade hoje é escolher a quem vamos pagar. Num
mês a gente paga a energia, no outro paga a água, tentando administrar essa
situação”, explicou o reitor Télio Nobre Leite.
Leite revelou que algumas empresas terceirizadas já pediram
cancelamento dos contratos com a Univasf. Entre elas, a empresa de transporte e
a fornecedora do Restaurante Universitário.
O presidente da Associação de Docentes da UFPE, Ricardo
Oliveira, que é professor do Departamento de Química da instituição, disse que
a dificuldade de frequentar as aulas já é percebida entre os alunos, inclusive
com abandono das aulas.
“A assistência estudantil foi uma das mais afetadas, com um
corte de R$ 2 bilhões. Isso acaba refletindo na não permanência do estudante.
Na condição de professor a gente percebe que o aluno não consegue continuar
porque não tem como pagar passagem, um lanche; ele depende de bolsa
permanência”, explicou.
Os reitores informaram que mantêm contato com a bancada
parlamentar de Pernambuco na Câmara dos Deputados e no Senado, em busca de uma
intermediação junto ao Ministério da Educação (MEC). Entre os problemas
relatados está o corte de recursos também do orçamento do MEC.
“Todos os parlamentares e o MEC estão cientes da nossa
situação. Estamos fazendo isso de modo permanente e entregamos um documento com
a necessidade de recomposição do orçamento de R$ 2 bilhões. Precisa ter a
recomposição nominal e a recomposição do orçamento”, disse o reitor da Univasf,
Télio Nobre Leite.
Resposta
Por meio de nota, o Ministério da Educação disse que a
necessidade de manutenção da infraestrutura de universidades federais "não
é um desafio atual e decorre da política implementada nos últimos anos, no
período de 2016 a 2022, que reduziu drasticamente os valores para manutenção e
investimentos nas instituições federais de ensino superior".
Segundo o ministério, as estruturas físicas foram se
deteriorando e isso "gerou um passivo que é objeto de atuação efetiva do
governo federal, por meio do Ministério da Educação, desde 2023".
"Nesse contexto, o MEC vem fazendo um esforço
consistente para recuperar o orçamento das universidades federais. Esse esforço
foi materializado nas suplementações ocorridas nos anos de 2023 e 2024",
informou.